Na área do seu Centro Histórico, Évora é uma cidade bem dotada de pequenos jardins, como talvez nenhuma outra no país. Muitos são os que pensam que eles são o sucedâneo das casa-pátio em que o velho burgo foi e ainda é fértil ou, numa versão mais alargada, dos frondosos oásis que existiam junto dos conventos e faziam parte dos seus domínios, tendo revertido para o domínio público quando da sua extinção e sido posteriormente transformados em lugares de lazer, diversão, namoro e passeio, continuando a cumprir de igual forma a sua função ecológica e ambiental.
Com efeito, se bem se atentar na localização dos jardins eborenses facilmente se constatará que o Jardim do Paraíso se encontra na extensão do demolido convento do mesmo nome, o de S. Mamede existe encostado ao antigo Convento de Santa Mónica, o de Diana perto do Convento dos Lóios e o das Canas nas imediações do Convento de S. Domingos. Estes foram prazeirosos e amenos lugares de convívio ou de quietude muito importantes para que os que viveram a cidade e na cidade durante os finais do século XIX até quase ao termo da centúria transacta.
Por essa altura foi dada cobertura a uma intervenção deveras infeliz efectuada em todos eles, que os descaracterizou por completo. Consentiu-se na introdução de elementos espúrios, no abate de algumas árvores, no empedramento do piso, na eliminação de caleiras, enfim, numa panóplia de erros, a pretexto de uma pretensa modernidade, que acabou por afugentar os seus habituais frequentadores. O arquitecto Ribeiro Telles, professor na Universidade de Évora e um dos pioneiros na introdução da arquitectura paisagística em Portugal, censurou duramente essas alterações feitas em espaços emblemáticos da cidade por apenas um técnico, sem que mais ninguém tivesse a palavra.
Vem todo este arrazoado a propósito da abertura ao público, desde o início do ano, do Jardim da Palmeira, um espaço muito aprazível e contido devido à presença das muralhas fernandinas. Quase desconhecido, fica situado entre o Hotel M’Ar de Ar e a própria muralha, estando acessível através de um portão existente na Travessa da Palmeira, na ligação à Rua Serpa Pinto. Dispondo-se longitudinalmente, o caminho está logo à entrada rodeado de árvores esguias e bem altas, num cenário bucólico e romântico. Depois, à medida que se vai progredindo, o arvoredo apenas se prolonga do lado esquerdo, acompanhando as muralhas, enquanto no flanco contrário se estende um bem tratado relvado que dá para as traseiras do hotel.
Segue-se a piscina privativa do mesmo e a porta que dá entrada para o bar, que poderá utilizar. Palmeiras só se avistam duas entre muitas árvores. Mas o nome do Jardim, como o da rua, tem a sua razão de ser. Ali ficava a Quinta da Palmeira que, para confirmar a regra, foi propriedade da Ordem da Cartuxa. E o actual Jardim não passa afinal do que resta da antiga quinta. Com hora de abertura às 9 da manhã e de encerramento às 17 horas de Setembro a Abril ou às 20:30 de Maio a Agosto, o Jardim da Palmeira merece ser descoberto e usufruído, pois permite reavivar a genuinidade da flora e a atmosfera tranquila e apaziguadora dos tempos de outrora.
Texto: José Frota
Fotos: Carlos Neves
Sem comentários:
Enviar um comentário