No dia 21 de Dezembro de 1997, com 76 anos de idade, faleceu o escritor Antunes da Silva, nascido em Évora, na freguesia de S. Mamede, e que foi acima de qualquer outra coisa, um Alentejano: um homem que, forçado a abandonar a sua terra natal pela defesa da justiça social, nunca esqueceu as suas origens e sempre lutou por defender os interesses da sua região.
A coragem com que, desde jovem, defendeu aquilo em que acreditava tornou-o um alvo fácil para as forças do obscurantismo político salazarista, obrigando-o, ainda muito novo, a fixar-se na área de Lisboa, onde viveu e trabalhou quase meio século. Distante, não esqueceu nunca os valores, as carências e o sofrimento do povo a que pertencia: toda a sua obra, parcialmente conotada com as preocupações de denúncia social subjacentes ao neo-realismo literário, foi um canto de amor ao Alentejo e aos alentejanos, o grito de revolta de quem via a sua terra esquecida e anulada.
Num conjunto significativo de jornais e revistas portuguesas, publicou, ao longo dos anos, textos de problemática literária, mas, sobretudo virados para a defesa dos interesses do Alentejo.
Paralelamente, desenvolveu uma obra literária que, em poesia e em prosa, lhe garante um lugar na literatura portuguesa contemporânea, sobretudo pelo testemunho que representa de uma época e de uma situação que só terminaria em 25 de Abril de 1974.
Mas, mesmo depois disso, manteve a sua capacidade de intervenção: a defesa da Reforma Agrária e a construção da Barragem do Alqueva constituíram objetivos de um combate em que se manteve sempre ativo.
Em 1991 a Câmara Municipal de Évora distinguiu-o com a Medalha de Mérito Municipal: Pela dedicação ao estudo de questões relacionadas com o desenvolvimento do Alentejo, pela intensa actividade literária nos campos da prosa e da poesia, onde Évora e o Alentejo são, por excelência, os temas abordados, assim como pelo empenhamento na vida democrática, antes e depois do 25 de Abril de 1974.
Em 1992, o Presidente da República Dr. Mário Soares condecorou-o com a Ordem da Liberdade; e, em 1995, a autarquia eborense celebrou os 50 anos da sua vida literária, prestando-lhe uma homenagem pública, em que foi salientada a sua “postura cívica e de intransigente defesa dos alentejanos”. Homenagem a que em boa hora se associaram a Universidade de Évora e a Casa do Alentejo.
A vasta obra literária de Antunes da Silva insere-se na corrente neo-realista, destacando-se entre os múltiplos títulos o livro de contos “Gaimirra” (1946) e o romance “Suão” (1960). Este último teve sete edições, a última das quais em 1985, e contém alguns dos mais belos textos escritos sobre o Alentejo. Conhecido internacionalmente, viu textos seus traduzidos e publicados na Checoslováquia, Bulgária, Itália, Alemanha, Canadá, URSS e França.
A sua Obra reparte-se por vários géneros:
Conto, Novela e Romance:
Gaimirra (2 Edições: 1946 e 1983 – revista);
Vila Adormecida (2 Edições: 1948 e 1984 – revista);
Sam Jacinto (2 Edições: 1950 e 1978);
O Aprendiz de Ladrão (2 Edições: 1954 e 1985 – revista);
O Amigo das Tempestades (3 Edições: 1958, 1962 e 1980 – revista e aumentada);
A Visita (1962, Col. ‘Imbondeiro’, Sá da Bandeira, Angola);
Alentejo é Sangue (3 Edições: 1966, 1975 e 1980 – revista e aumentada);
Uma Pinga de Chuva (2 Edições: 1972 e 1983 – ‘Círculo de Leitores’);
Exilado (1973, Editora Inova, Colecção ‘Duas Horas de Leitura’).
Romance:
Suão (7 Edições:1960, 1961 – Portugália Editora, 1970, 1974 – Publicações Dom Quixote, 1974 – Edição ‘Círculo de Leitores’, 1978 – Editora Bertrand, 1985 – Livros Horizonte);
Terra do Nosso Pão (2 Edições: 1964 – Ed. Portugália, 1975 – Editora Bertrand);
A Fábrica (1979 – Editorial Estampa).
Reportagem:
Terras Velhas Semeadas de Novo (2 Edições: 1976 – Editora Bertrand);
Alqueva – A Grande Barragem (1979 – Editorial Estampa).
Diário:
Jornal I (1987 – Livros Horizonte);
Jornal II (1990 – Livros Horizonte).
Poesia:
Esta Terra que é Nossa (1952 – Cancioneiro Geral);
Canções do Vento (1957 – Cancioneiro Geral);
Rio Degebe (1973 – Editora Prelo);
Senhor Vento (1982 – Livros Horizonte);
Breve Antologia Poética (1991 – Edição da Câmara Municipal de Évora).
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