domingo, 6 de maio de 2018

Quinta do Sande


Pertenceu à família Landim Sande e é conhecida do vulgo como Quinta do Galego. Fica situada na margem esquerda do rio Xarrama, a c.ª de um quilómetro da cidade, para o lado Norte e pertence ao lavrador João Lopes Fernandes. Dos primitivos donatários, fidalgos ilustres que se fundiram através dos tempos e vinham desde os fins do séc. XV, descenderam e habitaram a casa de campo o cónego André de Sande, instituidor da notável capela tumular da igreja conventual do Espinheiro, onde jaz desde 1710; os sobrinhos João de Landim e Sande, também cónego e Simão de Landim, além do operoso capitular da Catedral, António de Landim Sande, reformador da capela da Natividade, em 1771, e do altar-mor da igreja monástica de S. Francisco, no ano de 1773. 

Aqui viveu em 1808, com residência fixada, o tenente-general Francisco de Paula Leite de Sousa, Visconde de Veiros, herói da Guerra Peninsular e denodado defensor da cidade contra as tropas francesas de Loison. Do mesmo modo, nestas salas e secretamente, se reuniram os principais cabecilhas da Independência: coronel espanhol Frederico Moretti, Corregedor José Paulo de Carvalho, António Lobo de Lacerda, sargento-mor de Ordenanças de Vila Viçosa e outros delegados do clero e nobreza local. O pátio do edifício solarengo era antecedido, ao Sul, antigamente, por opulento portado de alvenaria, de duas pilastras rematadas nos acrotérios por fachos perspectivados, precisamente na margem do Xarrama, o qual se atravessava em ponte de dois arcos, ao presente destruída. Compõe-se a parte primitiva do solar de dois grandes pavilhões oblongos, de telhados de duas vertentes, separados hoje mas comunicantes outrora por demolido passadiço, com frontarias de bela panorâmica voltadas para Évora e revestidos de janelas com padieiras de granito e grades de ferro forjado, do tipo de barrinha, dos começos do século actual. O bloco mais antigo, adulterado no corpo posterior, está adornado no pátio da face norte, por nobre escadaria de dois lanços e terraço corrido sobre sacada de três arcos de volta inteira, por banda, defendido em balaustrada de pedra e grades lisas de varões metálicos, toscamente forjados. Tem, na cobertura, uma lanterneta de quatro luzes em remate alongado, e interiormente, amplas salas e corredor central de abobadilha. 

O corpo térreo é constituído por formosa e vasta sala de três naves e sete tramos, com abóbadas de aresta e meio canhão apoiadas em pilares de pedra aparelhada: foi adega e casa da carruagem e serve agora de cavalariça. O outro pavilhão, no prolongamento ocidental, mais recente e em simetria com o anterior, possui alterosa torre rectangular, coberta e de cunhal fortemente aparelhado em granito, construída pelo pai do actual proprietário com aplicações utilitárias de materiais e guarnições do velho paço rural. A grande sala do ocidente, no rés-do-chão, debruça-se sobre interessante lago de planta rectangular, de mármores regionais, envolvido por pilares gradeados, corredores de alvenaria e friso de azulejos policromos, do tipo de grinaldas e festões, da Real Fábrica do Rato, de Lisboa, datáveis do último terço do séc. XVIII. No centro, sob pedestal de quatro carrancas antropomórficas, ergue-se a estátua marmórea, em tamanho natural, de Diana a Caçadora, de vestes romanas, em concordância com a dignidade eclesiástica do antigo donatário, prebendado António de Landim Sande. O corrimão da balaustrada esteve guarnecido por estatuetas alegóricas de faiança, de esmalte branco, também do Rato e do período 1770-75, que se perderam vandalicamente, com excepção de uma malfadado Neptuno, que pertence ao dr. Joaquim Vieira Lopes, de Évora. 

Opulenta nora, do género árabe, ligando a comprido e coleante aqueduto em arcos de alvenaria abastece este lago, a fonte do pátio e regava desaparecido jardim onde subsistem algumas obras de arte e um tanque circular, também de mármore de Estremoz, centrado por pira lavrada, de repuxo. O palácio está ao presente inabitado e da sua pretérita grandeza resta triste e desoladora ruína. Contra o lado oriental da quinta e da tapada que delimita o rio Xarrama, no local onde se construiu a Ponte dos viandantes, edificada de alvenaria e de chão lajeado aberto em arcada abatida de cinco vãos e de esporões a montante, afixou a piedade cristã, no anteparo do murete, um evocador registo de azulejos policromos, da Fábrica do Rato, alusivo à catástrofe dos eborenses mortos às mãos dos soldados da cavalaria francesa no fatal dia,. 29 de Julho de 1808. O painel, elíptico, representando as ALMAS DO PURGATÓRIO, está envolvido por moldura de grinaldas e sanefas policromas e ostenta a legenda: P.E N.O AVE MARIA, PELAS ALMAS. 

BIBL. Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 85-86.

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