O Depósito de Pão do Concelho, o primeiro instituído em Portugal, deveu-se ao rei D. Sebastião, por alvará de 20 de Julho de 1576 e foi instalado, a título provisório, nas torres do castelo manuelino por empreitada dada aos mestres de pedraria Mateus Neto e Francisco Gil no ano imediato e terminada por Brás Godinho na década seguinte. As vultuosas obras de adaptação deste edifício militar para Quartel de Dragões de Évora, segundo determinação real de D. João V em 1736, impuseram o estudo de transferência dos depósitos de trigo para lugar definitivo e o monarca, interessado em instalar condignamente os cereais do mais poderoso produtor nacional - o Alentejo deu plenos poderes à Junta nomeada para construir edifício que honrasse pela sua arquitectura e proporções a monarquia portuguesa. Para o efeito adquiriu-se um talhão de moradias situadas entre a Rua do Paço e o Largo de S. Francisco, que compreendiam os restos do palácio quinhentista de D. Jorge de Lencastre, Duque de Coimbra e filho natural de D. João II. Todavia, a construção, planeada nos últimos anos do reinado do Magnânimo só teve início no ano de 1773, sob assistência do Corregedor da Comarca Dr. João de Faria da Costa e Abreu Guião e foi concluída em 1780. Desde 1744, porém, que o Celeiro funcionava, com feição precária, no edifício do Trem (Palácio de D. Manuel).
Foi tracista do novo imóvel o mestre pedreiro João Baptista e acessores Brás da Silva, António Baptista e Sebastião Rosado; oficiais de cantaria João de Sampaio e João da Silva; ferreiro Francisco Cardim; mestre de carpintaria João Crisóstomo; dos fomos e arranque da pedra. Sebastião José e Angelo Henriques e pintor João Baptista. Vedores: deputados cónego João Pedro Stokier e Estêvão Mendes da Silva. A obra importou em 20 000 cruzados. No ano de 1821 sofreu grandes benefícios assistidos pelo oficial de pedraria Manuel Joaquim dos Santos. O Regimento de 1576 vigorou até 1852, apesar de, após a restauração liberal de 1835 a Câmara, por sentença estadual que extinguiu a Junta primitiva, entrar na administração do Estabelecimento com as necessárias alterações. Estas foram, sucessivamente, modificadas com as Portarias e Leis de Outubro de 1852, Julho e Agosto de 1854, Julho de 1863 e Julho de 1898. A fachada axial, voltada ao lado sul e sobranceira à ermida de S. Joãozinho, é uma nobre empena decorada por janelas de sacada, de granito emoldurado e com frontões triangulares, defendidas por elegantes balcões de ferro forjado, do estilo rocócó.
Formoso portado, também de granito, em linhas dum barroquismo seco mas monumental, compõe o centro, ladeado por pilastras que atingem as cornijas bem salientes do edifício, que é coberto com telhado de quatro águas donde rompem mansardas do tipo característico da arquitectura pombalina. O portal propriamente dito, de arco lanceolado, envolvido por ornatos aconcheados e volutas, onde assenta o armorial da casa reinante portuguesa, de mármore branco, está centrado por jambas apilastradas, de filetes e mísulas de enrolamento, do género vegetalista, terminadas em ábacos de porte muito acentuado, sobrepujadas por fachos de belo efeito ornamental. Estantes e lateralmente ao brasão, duas tabelas enroladas em forma de pergaminho exibem a inscrição: CELLEIRO COMM UM F.TO P.ª UTIL.DE P UBLICA POR ORD EM DE S.M.F.SEND O INSPECTOR E D EPUT.DO O DZ.DOR JOÃO JOZE DE F.ª DA COSTA E ABREU GUIÃO CORR.OR DESTA COMARCA E DEPUTADOS DE MESMO CELL EIRO O CONICO JOÃO PEDRO ST OCOLER E ESTE UÃO MENDES DA SILV.RA CID.ÃO DEST A CI.DE ANNO D 1777.
O Real Celeiro Comum é constituído pelo depósito, em si, e pelas sala de sessões, sala vaga, cartório e moradia do tesoureiro, com suas dependências cómodas mas vulgares, que compreendem o piso alto e se atingem através da escadaria principal, coberta de abóbada em 1778 e que termina em patamar de três entradas, de vergas de granito trabalhado, com molduras salientes e reentrantes terminadas em empenas de cunha. São do puro estilo português do derradeiro período de D. João V. As portas, de madeira esculpida e almofadada, com seus painéis e filetes, conservam as fechaduras e espelhos originais, coroados, de latão. Verdadeira grandeza tem o depósito do trigo, amplíssimo salão de planta rectangular, onde se recolhiam cerca de cinco milhões de quilos do precioso cereal. Construído em alvenaria, é formado por um rectângulo de 30,10 m de comprimento, 21,60 m de largura, e 6,25 m de altura, com quatro naves de cinco tramos divididos por pilares de secção poligonal, de cornijas muito acentuadas e fechado por abóbada de penetrações, com arcos redondos de aduelas almofadadas. As doze colunas centrais assentam em robustíssima sapata de granito, e estiveram recobertas de alvenaria de 1821 a 1962. A iluminação da dependência faz-se por vastas janelas rectangulares, emolduradas, vulgares. O edifício está ocupado ao presente pela Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas - Brigada Técnica da XII Região - e pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo.
BIBL. Tombos mss. do Celeiro Comum. Sécs. XVI-XIX. Arquivo Distrital de Évora.
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