terça-feira, 5 de julho de 2011

17º Festival Évora Clássica começa hoje


«Rituais do Oriente e de África»

O rito, este espaço-tempo que se instala no nosso quotidiano como uma pontuação, permite a este corpo do Oriente e da África, envolver-se do ornamento dos deuses e dos espíritos e franquear a linha de um outro mundo de representação. Abandonar o nosso mental e convidar a nossa emoção a percorrer uma paisagem desenhada por um outro gesto.

As danças sagradas cultivam a ambiguidade de uma sensualidade simultaneamente carnal e espiritual, quer com os corpos africanos possuídos pela lua cheia, quer com os corpos indianos maquilhados e acrobáticos evocando o amor divino de Krishna e dos seus Gopis. «O homem indiano não aspira à divindade; é o deus que, na sucessão de encarnações, escolhe fazer-se homem. » (Lyne Bansat-Boudon, Introdução ao Teatro da Índia antiga – Pléiade)

O culto de uma beleza celeste e depurada torna-se num refúgio onírico, num chamamento para a eternidade, face às preocupações comezinhas dos nossos destinos efémeros e da actualidade alarmista dos tempos modernos.

As artes e as músicas tradicionais vêm de uma época em que a espiritualidade fazia parte integrante de todo o processo de criação. A arte indiana e a dança, elas mesmas, deixarão progressivamente o recinto secreto do templo para o aparato do ouro dos palácios. A beleza física quer-se assim a imagem celeste da eternidade.

A emoção desordenada e rápida do corpo que conduz ao transe anárquico, o de um sufismo ao mesmo tempo agreste na sua prática e extremamente sofisticado na sua poesia, como o da confraria Skallia de Fez, continua, ainda hoje, uma realidade, apesar das pressões de um islão ortodoxo.

Viver intensamente o efémero do momento presente é em si mesmo uma maneira de abordar o sentimento da eternidade e de apreender a ideia da morte. « Quando eu nasci toda a gente ria, mas eu chorava ; mas quando eu morrer, o mundo chorará à minha volta e eu rirei » dizia Kabîr, o grande poeta de Bénarès (1440 – 1518).

À imagem dos quadros vivos dos jovens gotipuas da Orissa, que flutuam, por magia, no ar alguns segundos, apenas para celebrar o poder de um deus criança, músico sedutor, as artes tradicionais apresentadas este ano em Évora são um convite para desafiar o tempo durante alguns dias.

Reviver esta sensação iniciadora dos rituais de África com as Máscaras da lua em que o homem procura ao mesmo tempo imitar e apropriar-se da natureza, é uma maneira de melhor apreender a arte humana e de ir, este ano, à procura de emoções ainda mais intensas.



Alain Weber
Director artístico



Programação

Terça Feira 5 Julho de 2011 - Noite Africana
22h - Palácio Cadaval
As Mascaras da Lua - O Sagrado revisitado, Burkina Faso
As máscaras dos contadores são a incarnação da divindade Do. A partir do momento em que veste o hábito branco, o iniciado deixa de ser um homem...

Quarta Feira 6 de Julho de 2011 - Noite Indiana
22h - Palácio Cadaval
Gotipuas - Os jovens bailarinos, herança da Aldeia Raghurajput
A beleza incandescente e divina de Krishna e Radha encarna-se nestes quadros vivos em que o bailarino se transforma em motivo pictórico.

Quinta Feira 7 de Julho de 2011 - Noite Marroquina
22h- Palácio Cadaval
Marouane Hajji e o conjunto Akhawane El Fane - Cânticos Sufis da Confraria Skallia de Fez, Marrocos
Foi dito «Se o Oriente é a terra dos profetas, o Ocidente (Magrebe) é a terra dos santos (Awliya)»

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