Os trabalhos de acompanhamento arqueológico relativos ao loteamento do Parque da Indústria Aeronáutica, obra de responsabilidade autárquica a decorrer desde o passado mês de Maio, permitiram a identificação de importantes contextos arqueológicos, actualmente em fase de escavação, grandemente enriquecedores para o conhecimento do passado histórico-cultural eborense.
Os técnicos municipais e da empresa de arqueologia, contratada pelo município, identificaram uma extensa e complexa área de necrópole, aparentemente utilizada durante o final da II Idade do Ferro (época na qual se multiplicam os contactos entre o substrato indígena e a cultura e colonos Romanos), onde se registaram, até ao momento, cerca de 80 sepulturas. Estas sepulturas consistem em estruturas negativas do tipo “fossa”, escavadas no substrato geológico, cuja profundidade oscila entre os 20 e os 120 centímetros, possivelmente servindo diversas funcionalidades.
A escavação destas estruturas funerárias, ainda a decorrer, permitiu já compreender que se tratam (nos casos escavados) de sepulturas individuais, onde eram dispostos restos de cremação, no interior de urnas em cerâmica, acompanhadas de pequenas oferendas. Com o alargamento da área onde se encontra a necrópole foi descoberta uma grande área queimada, com evidentes vestígios de cinzas, carvões e materiais carbonizados, que os arqueólogos julgam tratar-se da zona de cremação (ustrinum) daquele campo funerário. Os arqueólogos afirmam também que, aparentemente, várias sepulturas teriam sido violadas, ao longo de épocas históricas, desde o período romano até época medieval/moderna.
É de salientar ainda a, igualmente importante, identificação de um provável troço da via Romana que ligava Ebora Liberalitas Iulia (Évora) a Pax Iulia (Beja). Ainda que apenas pouco mais de 30 metros tenham sido, até ao momento, postos a descoberto, trata-se efectivamente de uma via com cerca de 3,5 metros de largura, apresentando as técnicas construtivas características dos caminhos romanos, com as bermas delimitadas por grandes blocos de pedra, dispostos em cunha, e o leito constituído por pedras mais pequenas, compactadas, faltando-lhe apenas a cobertura de lajes que pode, ou nunca ter existido, ou, mais certamente, ter desaparecido.
A continuação dos trabalhos de acompanhamento e escavação destas realidades arqueológicas, a desenvolver durante as próximas semanas por cerca de uma dezena de arqueólogos e técnicos de arqueologia, permitirá ampliar o registo e conhecimento acerca deste frágil e importante fragmento da história eborense.
A descoberta destes contextos arqueológicos não atrasa em nada as obras de loteamento do Parque de Indústria Aeronáutica de Évora, uma importante infra-estrutura para o crescimento económico local e regional, uma vez que as máquinas foram deslocadas para outras frentes de trabalho. Para o Parque de Indústria Aeronáutica está prevista a instalação de duas empresas do grupo brasileiro EMBRAER.
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