domingo, 3 de setembro de 2017

Convento da Cartuxa


A fundação do vasto mosteiro, da Ordem de S. Bruno, dedicado à Virgem Maria com a denominação de Scala Coeli e o decano da mesma em Portugal, deveu-se ao ilustríssimo arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança, derradeiro filho dos duques D. Jaime, 3.° deste título e de sua esposa D. Joana de Mendonça. Obtida licença do Grão Prior D. Jerónimo Marchant e escolhido o local da construção, do Mosteiro do Castelo de Morea, no arcebispado de Tarragona, saíram os fundadores D. Luís Telmo, 1.° prior de Évora, D. Jerónimo Ardion, D. Francisco de Monroy, monges do hábito e os conversos fr. Silvestre, fr. João de Vellis e fr. Paulo, todos catalãos, que deram entrada nesta cidade no dia 8 de Dezembro de 1587. Como a obra, modelada com a grandeza peculiar da regra se devia arrastar pelo espaço de alguns anos, o prelado obteve do primo Filipe II de Espanha autorização para que os religiosos se aboletassem em parte do Palácio Real de S. Francisco, desocupado pela ausência da corte em Madrid e, afinal, jamais utilizado pelos futuros monarcas portugueses. No dia 15 de Dezembro de 1598 inaugurou-se a nova casa de Deus, em seguida à leitura de doação do edifício e terrenos adjacentes, com simultânea aposentação dos mesmos monges. Na data da morte de D. Teotónio, ocorrida em 29 de Julho de 1602, na cidade de Valladolid, encontrando-se, o cenóbio numa fase muito adiantada de construção, verificou-se que os gastos dele ultrapassavam os 150 000 cruzados de rendimentos pessoais do fundador. 

O píissimo antístite deixou todos os seus bens à novel ordem, a qual, em sinal de reconhecimento pela sua memória, em carta dimanada do D. Prior Geral de S. Bruno, ofereceu in infinitum, ao Duque de Bragança, D. Teodósio II, sobrinho do instituidor, o chão sagrado do templo para panteão da Sereníssima Casa, diligências que embora aprovadas por ambas as partes, não teve seguimento. Durante os cercos de Évora em Maio e Junho de 1663, o convento foi vítima das vicissitudes da guerra e serviu de hospital de sangue: a sua primitiva igreja, edificada com explendor, conforme os desejos do padroeiro, foi incendiada depois de todo o edifício ter sido ocupado pelo corpo de 3 000 cavalos de D. Diogo Cabalero e, dos elementos originais da sua arquitectura, somente se aproveitou o nobre pórtico de mármore, do estilo clássico. Perante esta calamitosa situação, a comunidade instou, junto de D. Pedro II, como legítimo sucessor do ducado brigantino, para aceitação do padroado da nova igreja, conforme documento de petição feito pelo D. Prior Sebastião da Madre de Deus, em anuência que caiu sobre o herdeiro da coroa, o príncipe do Brasil D. João. O auto público foi lavrado em Lisboa no dia 17 de Fevereiro de 1701. Desta forma, a coroa subsidiou largamente o levantamento do novo templo, e na primeira fase do restauro, no priorado de D. Bernardo de S. José, o rei concedeu a verba de 26 000 cruzados, acrescidos posteriormente, já no governo de D. João V, com 5 000 cruzados para douramento do imponente retábulo de talhas policromas do altar-mor, obra notável devida aos artistas eborenses, irmãos Abreu do Ó. Extinta a comunidade em Maio de 1834, o edifício foi salvo da hasta pública pelo deputado eborense Joaquim Filipe de Soure, que nele sugeriu a criação de uma Escola Agrícola Regional que, após vicissitudes várias, se criou na sua cerca, segundo letra do Decreto de 16 de Dezembro de 1852. Com a extinção desta em Abril de 1869, o convento e terras anexas foram vendidos pelo Estado, por 23 001$00 a José Maria Eugénio de Almeida, representado actualmente pelo eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, descendente directo e seu legítimo proprietário. 

No ano de 1960 a comunidade cartuxa, igualmente representada por religiosos espanhóis, como os fundadores, e a consentimento arquiepiscopal de D. Manuel Trindade Salgueiro, arcebispo de Évora, por renúncia voluntária com cláusulas específicas daquele donatário, voltou a ocupar o edifício e todos os seus anexos sob guardiania interina de frei Ludolfo Maria Urbano. Todavia, só em Junho de 1963 a Ordem elegeu D. Pedro de Sotto Domeq, ex-conde de Puertohermoso (D. Pedro de Santa Maria), como seu 1.° D. Prior da 2.ª vigência claustral. De entre um espólio de excepcional beleza artística e valor material destacavam-se, do fundo primitivo do cenóbio, 134 painéis de pintura, incluindo doze em tábua, estes possivelmente do séc. XVI, que, após o inventário do delegado do Governo, dr. António Nunes de Carvalho, se arruinaram numa dependência do mosteiro por desabamento do telhado e em cujo núcleo deveria estar o retábulo flamengo do Calvário, que esteve originariamente no claustro e serviu de modelo ao célebre conjunto da Chartreuse de Champmol, perto de Dijon, denominado Puits de Mise, de Claus Sluter (1601); a notabilíssima Livraria, em fundo especial doada pelo arcebispo D. Teotónio, em 1602, vendida, em parte, ao desbarato depois de 1834 e pequeno núcleo de manuscritos recolhidos na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde são jóias inapreciáveis o apógrafo do Leal Conselheiro, de D. Duarte, e o célebre Atlas, de Fernão Vaz Dourado, de 1571; e, ainda, a grande banqueta do altar-mor, que se vê hoje na capela-mor da Catedral, executada pelo entalhador eborense António José Coelho, pouco depois de 1808, para substituir a antiga, de prata, que os franceses de Loison pilharam durante o assalto da cidade. A dois arquitectos italianos, segundo a moderna interpretação crítica, foi dada a autoria e planta da igreja da Cartuxa: a Filipe Terzi e a Giovanni Vicenzo Casali, o primeiro, artista muito conhecido em Portugal e o segundo, mestre florentino nomeado por Filipe II, em 1586, para estudar e dirigir a obra de fortificação do reino. Todavia, a fachada é nitidamente inspirada numa gravura do Libro extraordinário delle porte, de Sebastião Sérlio, publicado no ano de 1537. 

Ignorando-se ao presente até que ponto as destruições afectaram a estrutura do templo antigo e sabendo-se que todo o corpo superior foi terminado nos primeiros anos do séc. XVIII, dentro do espírito clássico original e não havendo documentos autênticos que testemunhem a paternidade do tracista do edifício, parece prudente, até surgirem fontes informativas dignas de fé, que fique em suspenso o seu estudo arquitectónico. Ao transpor-se um dos vãos da arcada do Aqueduto da Água da Prata, que lhe serve de limite territorial, na linha da Estrada Nacional 370, penetra-se na cerca do convento, que é antecedido por austero alpendre ou portaria exterior, de vergas almofadadas, graníticas, terminado por frontão sem retorno com obeliscos aguçados, nos remates, ao gosto barroco. Sob o tímpano corre a seguinte legenda votiva, gravada em placa de mármore: EREMOS DEI PARE VIRGINIS MARIAE SCALA COELI ORDINIS CARTUSIANORUM 1604 No vasto terreiro da igreja e ligado com oficinas monásticas, à mão esquerda, de sóbria frontaria de um piso, ultimamente restaurado, fica o corpo da antiga hospedaria dos monges brancos, que foi ocupado até há pouco tempo pelos proprietários do imóvel. A fachada do templo, na linha meridional, levanta-se com singular majestade na coroação de três andares da Renascença clássica, de mármores estremocenses brancos e de almofadas cinzentas nos planos superiores, intervalando a colunata. O pórtico, da ordem dórica, dispõe-se com colunas estriadas e friso de triglifos e metopas aberto por cinco arcos de volta perfeita e balaustrada nos vãos centrais, entre os tramos da escadaria, que é lançada espaçadamente em oito lanços. O alçado imediato, onde se abrem três janelões de perfis rectangulares é do estilo jónico, e o último andar está desenhado na ordem compósita, terminado nos acrotérios por pináculos e aletas barrocos que centram, em nichos (os únicos preenchidos), as imagens de S. Bruno, S. João Baptista e a Virgem Maria, todas de mármore branco de Estremoz. No tímpano propriamente dito, corre o escudo de armas de D. Pedro II, monarca que terminou a obra monumental da igreja, arruinada durante a Guerra da Restauração. 

Tem o alpendre, apoiado em abóbada de penetrações, três curiosos portais de mármore: os laterais, de empenas circulares, comunicam com a portaria e claustro das Capelas ou dos Irmãos. O portado central, de dintel cortado, com aletas rodeando o armorial da Ordem, de secção ovóide, mais belo e amplo, dá acesso ao templo. Este é de planta rectangular e de uma só nave com abóbada de berço, iluminada pujantemente por dez janelões rectangulares, outrora emoldurados por entalhados da arte barroca. Divide-se a igreja em três corpos distintos: capela-mor, nave e santuário dos irmãos. Esta última secção, a única franqueada ao público durante os ofícios divinos, mas em espaço separado por uma formosa teia de balaústres torcidos, de madeira do Brasil, compreende interessante recinto fechado com portal de mármore e tendo dois altares colaterais, de talha dourada e de colunas salomónicas ornamentadas por cachos de flores e frutos, apoiadas em querubins. Dosséis de madeiras coloridas, rematam as capelas, as quais, actualmente despidas de imaginária, tiveram os patronímicos de Santo António e Santa Bárbara. São bons exemplares barrocos de c.ª 1700. Nas paredes laterais do mesmo recinto, abrem-se dois riquíssimos exemplares de armários-lavabos, de mármores embrechados e de opulentos frontões de enrolamento e, aos lados, sob estrados, interessante cadeirado da mesma época, de talha, para doze irmãos, com altas espaldas agora desmontadas. Nos tramos correspondentes à nave da comunidade, servindo de coro, corre opulento cadeiral de madeiras de carvalho e castanho, destinado a 48 religiosos, estando decorado por guarnição barroca de fachos candentes, tabelas e pilastras de serafins esculturados, que se encontra muito arruinado por ter estado, em épocas antigas e depois da profanação da igreja, completamente coberto de cereais. Doze enormes molduras de talha dourada, decoradas por serafins e cartelas armorejadas, da ordem cartusiana, do séc. XVIII, preenchem os vãos das janelas: das telas, representando cenas da vida de S. Bruno ou de Nossa Senhora (?), desconhece-se o paradeiro, tudo parecendo indicar que se perderam comummente aos 134 quadros depositados em dependência do convento, pouco depois de 1836, numa fatal derrocada de telhados arruinados. 

A capela-mor, pouco profunda mas bastante alta, aberta por imponente arco triunfal de volta perfeita, de mármore fino de região, decorado com as armas de Portugal, ostenta um túrgido, volumoso e pomposo retábulo de talhas douradas e policromas, devido a desenhos e execução dos artistas Abreu do Ó, componentes de uma operosa dinastia de bons artífices de ensamblador, de escultura e entalhamento, que inundaram a região de magníficas obras de arte do género durante todo o século XVIII. A notável obra de marcenaria artística, executada ao gosto barroco, de volumes e formas pesadas e complicadas, mostrando no remate cimeiro o armorial da casa, está sobrecarregada de ornatos com grinaldas compactas de frutos e flores, de cornucópias sustentadas por serafins papudos, entre agigantadas aletas, cartelas, volutas, nichos e opulentas pregas de talhas esculpidas em alto-relevo. "A composição abrange um só andar; as colunas ocupam mísulas ricamente esculpidas com folhas de acanto que sugerem plumagem, dispostas de tal forma que, no centro de cada mísula, se abre um lugar vazio, descrevendo rudimentarmente a forma de um coração. Além disso, as colunas exteriores são consideravelmente avançadas, dando ao retábulo a sugestão de concavidades e, por isso, de movimento. A tribuna é ocupada por um trono em forma de pirâmide e encimada por uma coroa real sustentada por anjos volantes, segundo um padrão largamente seguido. O sacrário, de estilo arquitectónico, combina-o com um par de edículas por baixo da tribuna. Em cima da tribuna aparece uma terceira, reproduzindo em miniatura a forma do retábulo, provavelmente por influência espanhola, pois esse foi um modelo comum naquele país no fim do séc. XVII. No retábulo da Cartuxa, porém, o motivo é devidamente subordinado a dois arcos concêntricos que cingem o remate, fechando o perfil, à moda portuguesa, estabelecendo a harmonia compacta, visível em retábulos completamente evoluídos, como os do mosteiro novo de Santa Clara, de Coimbra e N.ª S.ª da Conceição, de Cardais". (Robert Smith). 

O altar já estava terminado em 1729, data em que para efeito de douramento D. João V, desvelado protector do mosteiro, como seu pai, el-rei D. Pedro II, lhe atribuiu a dotação de 5 000 cruzados. O profanamento da igreja, nos meados do século passado e as infiltrações de águas provocadas pela ruína do terraço do campanário, sobrepujante aos telhados, causaram profundos males ao extraordinário retábulo, que só principiou a ser olhado carinhosamente pelo último proprietário. Este conjunto, de proporções excepcionais e de um barroquismo perturbante, embora de traça complexa, não tem similar no sul do País. Assenta, a pesada massa de talha, numa base e altar de mármores embutidos, policromos, finamente caligrafados, semelhante aos do tapete pavimentar, este no sistema de apainelado de mosaicos do tipo italiano vulgarmente designado de estilo florentino. O claustro das Capelas, na banda ocidental do edifício, está completo e foi construído nos princípios do séc. XVII: é de planta quadrada, de três tramos com arcadas de meio ponto reforçados exteriormente por pilastras de granito. A abóbada tem nervuras levemente emolduradas e as paredes estão revestidas por alto rodapé de azulejos barrocos de esmalte azul e branco, com figuração de golfinhos e albarradas. Ao centro da quadra existe discreta fonte e taça de mármore branco, sendo o obelisco decorado por quatro carrancas antropomórficas; no terraço, contra o lado ocidental, abre-se na espessura da parede um interessante relógio de sol, esgrafitado e com moldura de friso vegetalista, coetâneo. As mais nobres e importantes dependências do real mosteiro ficavam neste claustrim: o Refeitório, Sala Capitular, Capela de S. Bruno e santuários tumulares de figuras de algo da religião, que desejaram repousar eternamente sob protecção dos monges brancos. 

Na primeira sala da mão esquerda (topo fundeiro), muito ampla e de tecto de berço, existiu num nicho de baldaquinete com composição a fresco, a venerável imagem de S. Bruno, que se expõe no presente oratório público, moderno, do exterior da comunidade. Contra o lado norte vêem-se três capelinhas do séc. XVII desta forma distribuídas: 1.ª - Actual sacristia, com algum mobiliário antigo mas sem mérito artístico; 2.ª - A tumular de António Simões Barreiros, que é muito curiosa, com seu tecto e prospectos de cimalhetes pintados a fresco e apainelados cegos, onde existiram retábulos. Atingindo as cimalhas, desde o solo, corre em forramento uma quente padronagem de azulejos policromos, do tipo de tapete, semelhantes aos da capela de S. Joãozinho, anexa à igreja conventual de S. Francisco, da cidade. Encontra-se aqui reunida uma curiosa série de esculturas de madeira, estofadas e douradas, e provenientes, na sua maioria, dos altares do extinto Convento da Cartuxa. As melhores são uma Santa Bárbara, do antigo altar da capela dos Irmãos, e S. João Baptista, ambas do período joanino. A campa do padroeiro, de mármore branco, tem legenda latina: 1645 ANTONIVS SIMMOIS BARR EIROS § QVIES C IT IN SPE § 3.ª - A última capela, nas mesmas dimensões e características, foi do padroado do cónego capitular da Catedral, Domingos Martins. Conserva a primitiva guarnição de azulejos enxaquetados, de esmalte verde e branco nas paredes, e o tecto é lavrado em caixotões com vestígios de pinturas murais. É obra dos começos do séc. XVII. A jazida, no meio do pavimento, em lâmina de ardósia, está rodeada por fieira de azulejos pavimentares, certamente castelhanos, de relevo e coloridos, ainda de fabrico quinhentista. Tem a seguinte inscrição, em português: REQVIESCAT IN PACE S.A DO DOVTOR D.OS MARTIS ARCI DIAGO DE OVRI OLA E CONEGO QVE FOI DA SE DESTA CIDADE DE EVORA O Q. AL DOTOV ESTA CAP.A ...DE JVL:O D 1610 Todos estes santuários possuem, nas respectivas janelas, os primitivos vitrais, verdes e de armações de chumbo, exemplares bem raros hoje em Évora. Na parede fronteira à entrada da actual capela (antiga Sacristia e Relicário), admira-se um dos mais representativos modelos de lavabos barrocos da cidade, facturado em mármore branco regional. Pequeno nicho com a imagem de S. Bruno (moderna), antecede a portaria desta dependência, onde se celebram normalmente os actos religiosos. É de planta rectangular, com abóbada de penetrações e paredes lisas, toda caiada de branco, onde se montou resto de um cadeiral da época seiscentista, proveniente da Sala do Capítulo, e nos alçados medíocre Via Sacra, pintada a óleo sobre tela, muito mais moderna e adquirida no bric-à-brac. O retábulo é um precioso exemplar de madeira dourada e laçada, do classicismo maneirista, datável de c.ª 1590 e ainda do tempo do fundador D. Teotónio de Bragança, axialmente iluminado pelo Calvário, que a tradição popular baptizou de Senhor Jesus da Cartuxa. Versão do motivo de edícula, tem duas pilastras jónicas longas e perfuradas por três zonas de nichos, ornados de pequenas esculturas de madeira estofada, de santos e profetas, quiçá coetâneos. A empena, aberta e do tipo serliano, com friso dórico, é requinte raro de academismo na talha portuguesa, embora frequente na espanhola, de que parece ser uma interpretação bastante livre com raízes na Cartuxa de Miraflores, de Burgos. 

Na nave e sobre móveis antigos subsistem alguns objectos sacros: banqueta, ex-votos pintados sobre tábua, camândulas gigantescas, tocheiros e as esculturas estofadas e douradas de S. Bruno e Santo António (esta proveniente da capela dos Irmãos). O restante mobiliário, algum muito bom, dos estilos holandês e português dos sécs. XVIII-XIX, foi sempre do património avoengo dos proprietários do edifício. A claustra grande, exemplar sóbrio de arquitectura barroca, concluído na governação do operoso prior D. Basílio de Faria, no 1.º quartel do séc. XVII, compõe-se de uma arcada em alvenaria de volta perfeita, de singulares proporções em Portugal, com cem metros e 19 arcos por banda. Parece que no período da Guerra da Independência, em 1663, sofreu muito com os bombardeamentos do general de artilharia castelhano, Marquês de Almenara. No meio do recinto ergue-se uma elegante fonte de três taças sobrepostas, circulares, de mármore regional, cujas águas caem em tanques de configuração romboide e servem para regadio do grande laranjal, ao presente novamente plantado com disposição regular, geométrica. No ângulo ocidental do claustro fica o cemitério fradesco, ao presente reconstituído, onde estiveram até 1839, sob campa marmórea e única, as cinzas de D. Basílio e de seu sobrinho e chantre Manuel Severim de Faria, nesta data trasladadas para a nave da Catedral, onde se encontram. Os monges cumpriam os votos de clausura, segundo o estatuído na regra, no mais absoluto isolamento e assim, cada religioso vivia na sua cela sem contacto com os irmãos do hábito branco, moradia que se compunha de cinco divisões distribuídas pelo rés-do-chão, primeiro andar e quintal privativo, onde existia, além de um alpendre de arcos de granito, um tanque para lavagem e fonte de repuxo, abastecido por canos construídos ao ar livre no remate dos muros exteriores Estes comunicavam com o aqueduto do profundo poço de cantaria aparelhada, do séc. XVII, que ainda existe, intacto, na cerca, para o lado da cidade. O poço é coberto por alpendre de quatro arcos e num dos ângulos, tem escada helicoidal que atinge o terraço, o qual esteve envolvido por curiosa galeria de arcada coberta, perdida por desabamento pouco depois de 1933. Sobranceiro fica o corpo da cela do padre prior, cujas dependências, assim como as restantes do mosteiro, foram ultimamente reconstituídas: o centro do claustro menor, deste lado, erguido desde os fundamentos segundo vestígios encontrados serviu, durante longos anos de depósito de águas pluviais destinadas ao regadio dos pomares vizinhos e se concebera como caixa de futura cisterna. Nos extremos do corpo alto do claustro principal, voltados para o lado norte, subsistem os restos de duas galerias que possuíam arcadas e frontões de alvenaria e se arruinaram nos tempos modernos. 

Na do lado oriental, uma vasta dependência de dois andares, com fogão, pavimento e coberturas desmoronados, serviu de Livraria, no andar superior, e de Calabouço no inferior, como sugerem alguns autores. António Francisco Barata, que no edifício compôs o seu romance da série eborense A Beata de Évora, na outra obra O Último Cartuxo, publicado em 1891 sob o pseudónimo de D. Bruno da Silva, coloca romanescamente o cárcere na cripta da igreja. Subindo ao terraço do templo por escada de rampas, chega-se ao campanário, que é de duas espadanas e possui um sino de bronze antigo e uma sineta moderna. Um terceiro campanil, sobrepujante, foi destruído por uma faísca no ano de 1931. O primeiro sino tem esculpidos a cruz de Cristo, a imagem de S. João Baptista e a legenda: FOI ESTE SINO FUNDIDO NO ANO DE 1821 SENDO PRIOR O MTO.REV.DO P. D.B.S.M.N. SAM JOAN BAPTISTA ORA PRONOBIS PEDRO PAULUS AMDEU ME FEZE. Nos ângulos meridionais, interiores, do claustro, nos fechos da abóbada, embora irreparavelmente atingidos pela humidade, conservam-se ainda formosos e opulentos armoriais pintados a fresco, da época barroca, com figuração heráldica da monarquia dualista dos Filipes de Áustria, do 2.° terço do seiscentismo. Duas peças de arte valiosas do fundo antigo da casa religiosa, que se encontravam, ultimamente, depositadas pelo Estado na Igreja de S. Francisco voltaram ao domínio original, e são elas: S. Bruno, belíssima escultura de madeira de castanho, estofada e dourada, da 1.ª metade do séc. XVII. Figurou na Exposição de Arte Portuguesa da Royal Academy of Arts, de Londres, em 1955. Alt. 1,64 m. Cadeira do Dom Prior da Cartuxa. Móvel do estilo barroco português dos começos do séc. XVIII. Época de D. Pedro II. Madeira exótica do Brasil, de talha esculpida, com braços de volutas e espaldar alto, apainelado, de remate enconchado e de pináculos. Pés recurvos, de garras estilizadas. A cavaleiro de discreto aterro do lado ocidental, na cota mais elevada da cerca da Cartuxa, ergue-se a caixa de água e o simples cano de arcaria que abasteceu a comunidade e cujo anel lhe foi concedido pelo rei Prudente de Espanha, a instâncias do arcebispo fundador, D. Teotónio de Bragança, segundo Alvará de 20 de Fevereiro de 1592. 

A pequena edificação oferece características do séc. XVII e está ligada ao Aqueduto da Água da Prata por uma torrinha quadrangular de cúpula cónica ladeada de quatro pequenos torreões do mesmo tipo, da obra renascentista dos arquitectos Francisco de Arruda ou Diogo de Torralva, feita nos meados do quinhentismo. O depósito distribuidor, de planta rectangular, é aberto por quatro arcos de volta abatida ornamentados por aletas barrocas, de alvenaria, e tem eirado com varanda e lanternim. No vasto terreno murado dos antigos domínios dos cartuxos, conservam-se duas lagoas onde a comunidade creava em viveiros permanentes, para fins alimentares, produção de cágados, única espécie carnívora que a regra autorizava para consumo. Na habitação do sr. eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, anexo ao edifício conventual, existem algumas peças antigas de merecimento das Artes Decorativas, cumprindo assinalar, pela sua singularidade as seguintes: a) Série de panos de armar, muito notáveis, tecidos em Bruxelas no séc. XVIII, representando cenas da VIDA DO IMPERADOR MARCO AURÉLIO, que são: 1.° TRIOMPHVS M. AVRELII - medindo 3,20 de alto, por 4,90 m. de comprimento. 2.° CORONATIO M. AVRELII - medindo 3,20 m. de alto por 3,80 m. de comprimento. 3.° M. AVRELIVS REPREHENDIT FAVSTINAM - que mede 3,20 m. de alto por 3,15 m. de comprimento. b) ARMÁRIO, do tipo holandês, no estilo de transição clássico-barroco - sécs. XVII-XVIII. Volumosa peça de madeiras exóticas, com frisos e portas decorados por elementos florais e animais selvagens, em baixo-relevo. A frente tem meias colunas salomónicas e capitéis de fantasia ao gosto da Renascença. No friso superior dois atlantes amparam um escudo liso. Bases de três leões em alto-relevo, afrontados (1). 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, págs. 377-378; pe. António Franco, Évora Ilustrada, ed. Nazareth, 1946, págs. 357-359; António F. Barata, Breve memória histórica sobre a fundação e existência até ao presente da Cartuxa de Évora, 1888; António F. Barata, Évora Antiga, 1909; Reinaldo dos Santos e Raul Proença, Guia de Portugal, 1927; João Rosa, Alentejo à Janela do Passado, 1940; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 22-29; Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963. (1) Ultimamente, estes objectos ornamentais foram removidos - as tapeçarias, para o antigo paço dos Condes de Basto e o móvel para a quinta de Valbom, residências ambas do Conde de Vilalva. 


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Luísa Sobral em Évora


Horário: 22h
Evento: 17 agosto
Localização: Praça do Giraldo

Após ter vivido por 4 anos nos EUA, Luísa Sobral estreou-se em 2011 com a edição de “The Cherry on My Cake”, um álbum bem recebido pelo público e pela crítica. Seguiu-se “There’s A Flower In My Bedroom” (2013), com 17 canções e prestigiados convidados, como Jamie Cullum e os portugueses António Zambujo e Mário Laginha. A sua discografia conta ainda com “Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa”, editado em 2014, que expande o seu universo para fora dos limites estéticos dos seus dois primeiros discos.
“Luísa” é o quarto álbum de originais de Luísa Sobral, editado em 2016 e agora apresentado ao vivo. Neste disco estreitam-se a cumplicidade e os laços afetivos com quem ouve, em novas canções e letras tocantes, que a colocam num novo patamar de maturidade criativa: ainda mais segura, exigente, autêntica e espontânea.
Compôs a música Amar pelos dois, interpretada pelo seu irmão Salvador Sobral, que ganhou o Festival Eurovisão da Canção 2017.
Org: Câmara Municipal de Évora​
Inserido na programação do Festival "Artes à Rua"

Informação retirada daqui

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A primeira edição do Iberian Porsche Meeting decorre em Évora de 8 e 9 de julho


O maior encontro de desportivos Porsche da Península Ibérica encontra-se praticamente lotado. Clientes e aficionados da icónica marca alemã não faltaram a esta inédita chamada e aderiram em peso ao grande evento que terá lugar em Cascais, Évora e Portimão, no fim de semana de 8 e 9 de julho.

Por preencher resta um número de vagas muito reduzido inserido no 'Pack Sport', o nível de participação mais acessível — um facto que deixa a organização do Iberian Porsche Meeting "muitíssimo satisfeita", avança Pedro Marreiros: "Contávamos atingir o nosso objetivo até meio do mês de junho e a verdade é que fomos surpreendidos com a adesão maciça dos nossos clientes, que não quiseram perder a possibilidade de participarem num programa de atividades extremamente dinâmico. No final de abril já tínhamos esgotado o 'Pack Sport Plus' e contamos neste momento com pouquíssimas inscrições para o 'Pack Sport', que contempla o desfile na Marina de Cascais e o desfile pela vila", revela o CEO da Prime Promotion, a empresa encarregue de organizar o certame.

Dentro do leque de viaturas já confirmadas estão "quatro Porsche 911 GT3 RS, alguns clássicos de eleição que irão dar um colorido muito especial ao Iberian Porsche Meeting e um rol de surpresas que não queremos, para já, desvendar", salienta o mesmo responsável, que aproveita igualmente para destacar o "enorme entusiasmo dos aficionados e clientes que residem na vizinha Espanha", tendo também eles confirmado a sua presença neste histórico encontro de desportivos Porsche.

Acima das melhores expetativas, "a verdade é que o objetivo delineado para esta fase foi largamente cumprido", reforça Pedro Marreiros, não escondendo que "a confirmação da presença de Mark Webber no Iberian Porsche Meeting fez com que muitos proprietários quisessem garantir imediatamente o seu lugar".

A realizar alternadamente em Portugal e Espanha, o Iberian Porsche Meeting é um evento anual que tem como objetivo reunir num mesmo espaço o maior leque de desportivos Porsche da Península Ibérica. Dirigido a proprietários, potenciais clientes e aficionados da marca, a primeira edição tem lugar no fim de semana de 8 e 9 de julho, e conta com a presença do antigo piloto de Fórmula 1 e campeão do WEC, Mark Webber. Reúne o apoio das Câmaras Municipais de Cascais, Évora e Portimão, e integra um conjunto de atividades desportivas.


domingo, 2 de julho de 2017

Colégio de S.Manços ou das Donzelas


Instituído no ano de 1592, pelo arcebispo D. Teotónio de Bragança, a sua regulamentação foi compilada em 27 de Setembro de 1625 pelo prelado D. José de Melo, que lhe fundou igreja e procedeu à definitiva instalação no paço velho dos Sepúlvedas, situado defronte do Convento do Calvário. A casa fora construída nos primeiros anos do séc. XVI pelo fidalgo castelhano Diogo de Sepúlveda, proscrito em Portugal por favorecer a causa de D. Joana, a Excelente Senhora e D. Afonso V, e que, matrimoniado com uma filha de Rui de Sousa teve a Manuel de Sousa de Sepúlveda, figura central da epopeia do naufrágio do galeão S. João, nas costas do Cabo da Boa Esperança, em 1552, num dos mais dramáticos episódios da História Trágico-Marítima. D. Maria de Távora viveu no paço nos meados deste século e nele teve bom oratório com capela-mor de abóbada revestida de pinturas a fresco, douradas; por viuvez professou no Convento do Paraíso, passando a residência à posse de sua nora, D. Antónia de Meneses, que nela residia no ano de 1591. 

O colégio, secularizado em época imprecisa, entrou na posse da Família Braamcamp-Reynolds e, no edifício, funcionou a Adega Regional e fábricas de Moagem de Farinha, de Cortiça, de Serração de Madeiras e actualmente, uma secção industrial da PROTEXTIL. Do primitivo corpo palaciego, subsistem restos relativamente importantes de arquitectura manuelina, numa sala térrea da banda norte, integrada no Recolhimento como Sacristia da Igreja de S. Manços e o pavilhão norte-sul de fachada principal para a Rua Cândido dos Reis (antiga Rua da Lagoa). Na empena axial, correspondente ao andar nobre escaparam de obras utilitárias, embebidas nas paredes, três belas janelas da primeira vintena do quinhentismo, elegantemente proporcionadas e impregnadas do hibridismo gótico-árabe comum em Évora no reinado de D. Manuel. As duas primeiras, que correm do alçado imediato ao antigo passadiço de arcos cegos que comunicava com o templete colegial, pousam sobre embasamento saliente, reforçado por sapata de cantaria, e oferecem aspecto de terem pertencido a uma galeria terminal em cujo ângulo existe curioso balcão, obstruído, composto por nodoso e rude tronco de granito, encordoado, que lembra peças similares do Solar Ducal de Vila Viçosa, talvez dirigidas pelo arquitecto Diogo de Arruda. 

A mais bela janela e a principal, geminada e de arcos de ferradura, com molduras concêntricas, tem capitéis e bases naturalistas delicadamente lavrados. Os toros laterais terminam em agulhas de ornatos góticos. O último janelão e o mais ocidental dos três, é de lintel trilobado, guarnecido pujantemente de temas vegetalistas, centrado por emblema heráldico (Sepúlvedas?), repousando em colunelos de capitéis manuelinos e bases prismáticas, calcários. Remate de verga em flexa conopial, toreada. O tardoz e couceira estão trabalhados, igualmente, com ornatos florais e geométricos. O pavilhão inferior, actualmente afogado com os nivelamentos sucessivos da Rua da Lagoa, conserva a estrutura e proporções originais. Primitivo corpo funcional do palácio, talvez adegas, casas da carruagem e depósitos, no séc. XVII foi adaptado a Dormitório Colegial. 

Tem grande carácter e compõe-se de oito vastas salas paralelas, dispostas duas a duas e separadas por arcada de grossas empenas de alvenaria e pedra trabalhada, com arcos redondos ou abatidos. A passagem axial é de arcos de ferradura e as abóbadas nervuradas, umas, de arestas outras, por vezes com chaves circulares, nascem de mísulas rudes, cortadas, servindo de arcos formeiros. Alguns dos artesões, de secção poligonal, sobretudo das salas do lado norte, conservam vestígios muito detalhados de pinturas a fresco, de ornatos renascentistas. As frestas, antigas, do corpo meridional, estão obstruídas. Mais delicada é a sala que serviu de sacristia do templete, situada na ilharga da banda ocidental, hoje utilizada como garagem. Construída nos primórdios do séc. XVI e desenhada em planta rectangular, de arcos redondos, chanfrados, tem belo exemplar de cobertura polinervada, de angras, em composição de estrela ogivada de 12 nervuras de perfis circulares ou rectilíneos, cerrados por bocetes redondos, de pedra, emoldurados com cordas manuelinas. 

Quatro robustas mísulas angulares, prismáticas, ornadas dos tradicionais elementos góticos, enobrecem o recinto, seguramente de arquitectura palaciana do tempo do rei D. Manuel. Tem as seguintes dimensões: Comp. 4,80 m. Larg. 3,60 m. Da igreja resta a arcatura externa completa: era de uma só nave, de tipo corrente do barroco seiscentista, defendida lateralmente por gigantes de alvenaria terminados por fachos ornamentais. A fachada principal, que olha ao sul, de empena mutilada, de singular sobriedade, tem portado e janela de jambas rectangulares, cornijas pouco acentuadas e angularmente duas pilastras de granito trabalhado. A cobertura e o altar perderam-se durante um incêndio que destruiu outras partes do recolhimento. No murete que cerrava a vasta cerca, para ocidente, subsistem vestígios do aqueduto de alvenaria que conduzia a água da Prata, concedida por anéis às comunidades do Calvário e a este Colégio, em 1569 e 1621, respectivamente. 

BIBL. Visitação dos Oratórios de Évora em 1591, ms. da B. P. de Évora, fls. 44, 44, 44 vol.; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, pág. 232. 

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Colégio da Madre de Deus (Hospital Militar)


Deveu-se, desde os fundamentos, aos esposos D. Francisca de Brito Sacola e ao Dezembargador Heitor de Pina, cavaleiro fidalgo da Casa Real, devotado colaborador do cardeal-infante D. Henrique e grande protector da Livraria da Universidade do Espírito Santo, para a qual deixou, em testamento, um legado de 10 000 cruzados, in gratio significationem. Para o efeito compraram terrenos situados ao fundo da Rua da Mesquita (actual D. Augusto Eduardo Nunes), onde existira, segundo as crónicas coetâneas, a primitiva Albergaria de S. João de Jerusalém, que vinha do tempo e fundação de D. Afonso Henriques e, obtendo de Roma a Bula expedida a 7 de Agosto de 1595, pelo Papa Clemente VIII, que autorizava a erecção do Colégio, deram início à obra com tanta urgência que, embora de traça grandiosa, pôde ser habitado antes de findar o ano de 1608. 

Os Estatutos do novo edifício foram aprovados em Lisboa no dia 18 de Maio de 1607 e neles se especificaram as características da sua administração e frequência, ficando dependente, em princípio, simultaneamente, do Ordinário e da Companhia de Jesus. Podia manter treze alunos escolhidos por oposição ou como parentes dos fundadores, até ao quarto grau. No Colégio se congregava, anualmente, a Corporação da Universidade para sair em préstito solene no dia de Nossa Senhora da Conceição. Expulsos os jesuítas em 1759, o imóvel sofreu as vicissitudes impostas a esta Ordem Religiosa pelas leis do Estado e passou ao domínio da Coroa, que o vendeu em hasta pública. Ultimamente, entrou na posse do Ministério do Exército, que lhe introduziu modificações necessárias para o fim em vista - instalação do Hospital da 3.ª Região Militar. Concluído em 1608, o Colégio da Madre de Deus conserva, na actualidade, a feição original do seu todo arquitectónico. É um edifício discreto, de alvenaria, em planta rectangular, inspirado nos colégios similares da Purificação e Hospital da Piedade, todos coevos entre si, mas de linhas menos severas, tanto na traça interior como na exterior, que é decorada por simples janelas de ombreiras de granito, sem ferragens. 

A fachada principal, voltada ao lado sul, escorada por cunhal de pedra aparelhada, conserva as antigas entradas colegiais e da capela, esta situada no topo nascente e que teve culto pouco tempo, pois estava por terminar no ano de 1726, como diz o Pe. António Franco, embora estivesse desenhada desde fins do séc. XVII. O portal, de simples guarnição de mármore, com reminiscências clássicas, de frontão triangular, conserva aberta em caracteres latinos, no dintel, este dístico: MAGNA.MATRI.DEI.D. O interior, profanado, serve ao presente de Gabinete do Director do Hospital Militar. Em belas e harmoniosas linhas de arquitectura barroca se levanta o claustro que, em planta quadrada e estilo toscano ocupa vasto espaço da construção, na banda norte-ocidente. Compõe-se de cinco vastos tramos de robustas colunas de mármore branco, de Estremoz, apoiadas em cunhais de granito, sendo as coberturas (certamente na origem em apainelados de madeira), feitas de simples abobadilhas protegidas por esticadores de ferro. O andar superior, primitivamente aberto, conserva vestígios dos capitéis esmagados nas cimalhas dos panos de alvenaria e tem agora janelas com padieiras de granito; o antigo corredor, espaçoso e cómodo, serve presentemente, no lanço leste, de enfermaria comum. 

A escada principal, aberta em lanços de boa construção, com degraus de pedra, é ampla e bem lançada. No centro da quadra subsiste o poço colegial, feito em peças de mármore branco, também da região, com seu alto gargalo de secção rectangular. A fachada posterior do edifício, que deita para o pátio sobranceiro à cerca do Hospital da Misericórdia, na frente oriental, conserva a arcaria de quatro vãos, suportada por altos pilares de granito, em arcos de volta perfeita e bases quadradas, em obra utilitária datável de c.ª 1605. Na empena angular das dependências da face oeste, em alta cartela ovóide de estuque hoje caiada, existia armorial da Companhia de Jesus ou dos donatários. 

Informação retirada daqui

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Chafariz d'el-Rei

Deve-se a sua construção ao monarca D. Manuel I, que o mandou erguer quando estagiava na cidade com a corte, no ano de 1497. A lápide de mármore branco, ostentando a Cruz de Cristo e legenda latina, cronografada, está aposta no merlão central, de grande porte. Sotoposta, em pedra bem lavrada existem as armas de Portugal, segundo interpretação arcaica, constituídas por cinco escudetes dispostos em cruz com bordadura carregada de dez castelos. Robusto muro de alvenaria, com cunhais graníticos, é terminado por cortina de ameias do tipo chanfrado, de perfis muito acentuados. A taça, de granito escuro e carcomido, muito baixa e de planta sensivelmente rectangular, está protegida por vários mamões circulares, rústicos e por aplainar, que servem de amarra aos quadrúpedes ou de degrau para viandantes. 

A inscrição, composta de caracteres romanos e góticos, híbridos, encerra a lição: EMANVEL - I - R - P - ET - A - CITRA - E T - VLTRAMARE - IN - APHRICA - G - D - OMNINVS £ 1497 - ANVS que vertida em português e desdobrando as abreviaturas, se deve interpretar: MANUEL, REI DE PORTUGAL, DAQUEM E DALÉM MAR EM ÁFRICA E SENHOR DA GUINÉ ANO 1497. BIBL. Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 73-74. ADENDA O chafariz Del-Rei sofreu obras de reparação importantes custeadas pelo Município, entre Janeiro-Fevereiro de 1966, reerguendo-se na quase totalidade a cortina de merlões chanfrados, de alvenaria, dos fundamento de 1497, dos quais subsistiam, dos 22 (excluindo o marco axial de homenagem), apenas 5 e muito atingidos pela velhice. Desapareceram, também, por necessidade urbanística, os malhões de pedra dos viandantes de cavalaria, que avançavam muito pela Estrada Nacional. 

Informação retirada daqui

sábado, 24 de junho de 2017

Chafariz das Bravas

Está situado na margem esquerda da ribeira da Torregela, a c.ª de 500 m. da antiga Porta de Alconchel, na Estrada Nacional de Lisboa. Foi construído pelo Senado Eborense no último terço do séc. XV e já existia no ano de 1483, como se verifica em determinado período da carta régia de D. João II, datada de 3 de Setembro, que se guarda no Livro II dos Originais da Câmara, a fl. 81 (Cód. 72 do Arquivo Municipal, em depósito na Biblioteca Pública de Évora). O desenho aguardado da vista panorâmica da cidade, apenso à folha de guarda do Foral da Leitura Nova, doado pelo rei D. Manuel em 1 de Novembro de 1501, representa o velho imóvel de aspecto muito semelhante ao actual, embora fosse bastante melhorado no reinado de D. João III, por empreitada do montante de 10 000 reis entregue aos pedreiros Lourenço Luís e Domingos Rodrigues, segundo arrematação pública de 11 de Março de 1528. Possuía o chafariz no eixo da fachada, opulento brasão de armas nacionais e duas carrancas de pedra nos extremos, que o tempo não preservou, embora se admita que o armorial se tenha recolhido no Museu Regional; todavia, esta frente é a primitiva. 

Forte paredão rebocado, de alvenaria, coroado na cimalha por friso regular de vinte ameias góticas e taça rectangular, de granito carcomido pelo tempo, destinada a bebedouro de animais de carga, protege a arca do depósito de águas que, embora potáveis, não se aconselham para consumo público. O cano subterrâneo condutor da nascente e suas caixas de alvenaria, com remates piramidais, foram rectificados nos tempos modernos, desaparecendo estas ao nivelar-se o terreno municipal sobranceiro à ermida de S. Sebastião, destinado aos mercados normais e feiras de gado. Nestes terrenos descobriram-se em 1860 ruínas da época romana de certo merecimento, tanto em alicerces de edifícios como em objectos soltos: pavimentos de mosaicos policromos, fragmentos de cerâmica utilitária e artística, peças de vidro, lápides de mármore com inscrições latinas e uma figurinha de bronze. 

BIBL. Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, fase. Antiguidades Romanas em Évora e seus arredores, 2.ª ed. 1948, págs. 302-303; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 56-57.